terça-feira, 14 de janeiro de 2014

“Máquina e Imaginário”, in Machado, Arlindo (1993). Máquina e Imaginário: O desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo.


   “Máquina e Imaginário”, in Machado, Arlindo (1993).
Máquina e Imaginário: O desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo.


As estéticas informacionais
Com as novas tecnologias, a arte sofreu grandes mudanças na segunda metade do século XX, com a mediação tecnológica desenvolvimento dos processos industriais e a introdução de novos circuitos de disseminação.
 Nos anos sessenta, deu-se o desenvolvimento das estéticas informacionais direcionadas à construção de modelos com rigor matemático capazes de avaliar/quantificar a informação estética contida num objeto dotado de qualidades artísticas. As estéticas informacionais almejavam tornar a apreciação do objeto artístico, com base na sua carga informativa, quanto à sua originalidade de forma objetiva e racional (de forma científica).
“As estéticas informacionais visam tornar objetiva e racional, “científica” a apreciação do objeto artístico a ponto de se poder formar algoritmos capazes de auxiliar programas de computadores a identificar produtos dotados de alta carga informativa original. (Apter, 1977:17-21)
Com estéticas informacionais, as produções artísticas, nas artes plásticas ou artes musicais, deixaram de ser avaliadas de forma subjetivo pelo avaliador, cujo conceito da “expressão”; “emoção” e “inspiração”, passando a ser valorizadas as habilidades estéticas no abstrato, dando lugar ao “conceito, a novidade, a configuração, a estrutura, etc.”.
A arte contemporânea passou também a ser considerada com a incorporação tecnológica cuja arte se baseia nos princípios formativos do computador e/ou capacidade de o operar. Esta tendência define a fruição da arte ligada às tecnologias de ponta, cuja convicção aprimorava a organização sintática abstrata, a economia expressiva, a optimização informativa e a produtividade, ocupando um espaço electrónico de memórias artificiais a circular em redes e correntes electrónicas e ao armazenamento numérico.    

O raciocínio de Walter Benjamin sobre a fotografia e o cinema em relação à arte produzida com recursos tecnológicos.
Walter Benjamin coloca em discussão e foca-se nas alterações da técnica no processo de produção de imagens, refletindo-se na percepção da obra de arte como obra de arte única. Considera o problema da modernidade, considerando a percepção, produção e o consumo do objeto ou da expressão artística.
Tal como o autor refere, o sentido das tecnologias utilizadas com recurso ao computador alteraram a reprodução artística, a fotografia e o cinema, transformaram a perceção e o entendimento da arte do objeto único, dando valor artístico à produção, concepção e acolhida na obra de arte, alterando o conceito de arte e a arte em si.
O capitalismo veio impor novos processos de produção, fazendo parte e aceitando a própria cultura.

 Relação da arte com a tecnologia
“Podemos considerar a relação da arte com a tecnologia como um casamento marcado por períodos de harmonia e de crises conjugais”. P. 24

O autor define a arte uma concepção romântica em que o artista se expressa pelo sentimento, manifestando o que lhe vai na alma e a tecnologia deriva da palavra grega téchne, definindo toda e qualquer prática de produção mecânica e objectiva. A união das duas, entre o romantismo e a maquina, com conflitos e reconciliações, permitiu um aumento de potencial e capacidade de produção, acessível a mais espectadores, por um lado, e, por outro, o surgimento de uma nova classe de artistas e uma nova dinâmica da criação artística.  

 “Toda arte produzida no coração da tecnologia vive, portanto, um paradoxo e deve não propriamente resolver essa contradição, mas pô-la a trabalhar como um elemento formativo.” p. 28

A produção artística, no novo conceito da utilização das tecnologias, deixando as contrariedades de lado, deve aproveitar o que cada uma, a arte e as tecnologias, tem de melhor e delas tirar partido, o melhor que lhe for permitido, enriquecendo os saberes pela sua diferenças e diversidades.

    O pensamento de Villém Flusser sobre o papel do artista na era das máquinas. 
O pensamento de Villém Flusser sobre o papel do artista na era das máquinas manifestava-se contra, pois criticava o desenvolvimento cultural apoiado nas maquinas, como se o artista se resumisse “à função estática e burocrática do apertador de botões.”
 Demonstrou-o, criando o seu trabalho artístico, contrariando a máquina na criação de conflitos resultantes dos dados inseridos, a qual, por não estar programada para isso e não reconhecendo esses dados, entrava em conflito. O artista tirou partido disso, retirando resultados interessantes e inovadores.

“Sem a intervenção desse imaginário radical, as máquinas sucumbem nas mãos dos funcionários da produção, que não fazem senão preenchê-las com “conteúdos” de mídias anteriores, repetindo em linguagens novas soluções já cristalizadas em linguagens mais antigas.” (p. 28)

O papel do artista
O autor menciona que o crescimento do universo dos aparelhos hardware aumenta numa velocidade muito maior relativamente às inovações no plano estético, sem tempo de permitir explorar todos os seus potenciais. Os equipamentos vão sendo ultrapassados por outros mais potentes com o objetivo de aumentar a produção e não o potencial da utilização e criatividade de quem os opera.
A arte como concepção romântica não consegue o seu lugar como única, tem de conviver com as duas formas para alcançar o progresso artístico. A fotografia e o cinema foram um bom exemplo de sucesso cultural implantado na vida social na altura.

 Máquinas semióticas 
As máquinas semióticas defendidas pelo autor seriam aparelhos produtores de imagens, com a capacidade de produção em série, alcançando as necessidades da sociedade de massas como as máquinas fotográficas, as máquinas de vídeo, os computadores, com a capacidade de produzir imagens ligadas aos meios de comunicação.


 Limitações que comprometem a argumentação dos críticos da fusão arte/tecnologia. (p. 36)
O autor comenta que o software acabava por ser limitador pelo facto das ferramentas apresentarem um mecanismo rígido e estereotipado, com o perigo de conduzir à incapacidade de renovação se utilizado por si só, por outro lado, tirando partido dessa estereotipagem, lançando o fenómeno da visualização das patas dos cavalos a andar, como a sensação temporal, entre outros, e serem utilizadas sem limites pelos comerciantes, pelos seus lucros.

As mudanças ocorridas com a arte tecnológica no que diz respeito ao papel desempenhado pelo autor na criação artística (p. 33-44). 

Para o autor, a arte e o artista eram considerados uma temática indefinida e era questionável a seguinte afirmação: “artista enquanto modalidade singular do humano, não seria um espécime em extinção”. Para ele, seria necessário questionar a quem conceder o elogio da criatividade quando se produz com recurso à máquina. A quem pertence a “imagem fotográfica, ao fotografo ou à máquina?”. O maior obstáculo estaria na decisão e compreensão do estatuto da máquina e na conceção de produtos culturais.
“Inventar uma maquina, para Simondon, dar forma material a um processo do pensamento”. O autor defende que as máquinas semióticas representam um desempenho muito importante na atividade da imagem que representa o homem contemporâneo, tendo potenciais variados determinantes de quem as utiliza.

 As mudanças no estatuto do recetor com o surgimento da arte tecnológica
O estatuto do receptor, com o surgimento da arte tecnológica, passa pela aliança do artista, da tecnologia e da técnica numa variedade de trabalhos contemporâneos que já são criados com a possibilidade de abertura estética, permitindo ao utilizador de usufruir de um menu de dados com variadas opções num ecrã táctil ou de outra particularidade de acesso de interação. A recepção é inserida no circuito de produção numa engrenagem de comunicação, assumindo a solidez do produto final em cada uma das utilizações/demonstrações, originando a mensagem.

A conjugação de todos os saberes e sentimentos afluem o contributo, dando forma à experiencia estética contemporânea, só sendo possível, na abertura de mudança dos valores tradicionais do conceito da “obra” como até aí tinha sido do conhecimento como resultado do ato de exclusividade da criatividade de um “génio” e aplicado a uma elevada acomodação hierárquica da criação artística.